Universo materno

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Reuniões de Família

Por Rosely Sayão


Neste dia e nos próximos, milhares de pessoas se reúnem com suas famílias, seja em torno do motivo religioso ou do sociocultural. O costume das reuniões familiares regulares tem diminuído consideravelmente e, por isso, tais reuniões podem ser muito educativas para crianças e jovens.


Em primeiro lugar, muitos deles reconsideram o conceito que têm de família. Como esta tem mudado muito, apenas o núcleo pai-mãe-filhos tem sido considerado família. Em datas como estas a presença de outros parentes é ainda comum e os mais novos têm então a oportunidade de observar novas identidades, comparar estilos e identificar diferenças de atitudes frente às questões da vida e dos afetos, entre outras coisas. E mais: essas são grandes oportunidades que os mais novos têm de conhecer com mais intimidade as tradições da família à qual pertencem.


Com a força que o foco na formação dos filhos para o futuro tem ganhado, muitas crianças simplesmente perdem oportunidades de conhecer melhor seu grupo de pertencimento e, portanto, sua matriz de identidade e sua história. De que modo viveram seus parentes no passado, como começaram as famílias materna e paterna, quantos parentes de segundo ou terceiro grau são considerados, pela família, heróis virtuosos por terem enfrentado com coragem as vicissitudes da vida? As crianças, em geral, desconhecem tais fatos e nem podem se orgulhar de pertencer ao mesmo grupo que eles.


Por outro lado, em toda família há parentes que vivem à margem dela por terem adotado outras maneiras de viver, outros valores e portanto se afastado, muitas vezes por exclusão, do grupo original. Nessas reuniões sempre há menções a esses parentes, mesmo que com críticas mais ou menos veladas, e os mais novos têm então a chance de entender que o fato de pertencer a uma família não significa, fatalmente, ter seu destino traçado. Muitas pessoas, excluídas ou afastadas por opção, constroem famílias de afinidade como grupos de amigos, por exemplo. É importante que crianças e jovens saibam que essa possibilidade existe na maturidade.


E o que dizer, então, dos parentes que se excedem na ingestão de bebidas alcoólicas e que se tornam inconvenientes nas brincadeiras ou na exposição dos segredos familiares, das desavenças não superadas, das mágoas e dos conflitos não resolvidos entre pessoas tão próximas? Essa é uma boa ocasião para os mais novos perceberem que o amor caminha lado a lado com o ódio e que um sentimento não anula nem destrói o outro. Eles podem descobrir que o oposto do amor é a indiferença e não o ódio e isso é importante para a busca do equilíbrio das próprias emoções e da imagem que têm de si.


Finalmente, é raro que nessas reuniões não se fale dos fracassos e êxitos familiares, das disputas, das passagens cômicas que alguns personagens protagonizaram, das frustrações e sonhos ainda perseguidos, do passado e do que se deseja para o futuro. Parentes que já morreram ou que se afastaram são lembrados com emoções diversas, com saudades, e se fazem presentes na ausência. Em torno da mesa e/ou dos presentes, costumes são resgatados e apresentados aos mais novos.


Isso é família. A verdadeira, a real, e não a dos anúncios de margarina, como costuma dizer uma amiga. É essa família que importa à criança e ao adolescente conhecerem, descobrirem, aprenderem a lidar. É a ela que pertencem.


Conheço pais que não comparecem às reuniões dessas datas justamente para preservar os filhos de tantos acontecimentos previstos e imprevistos. Eles não sabem de quanta coisa importante privam os filhos. Afinal, os modelos familiares que a criança e o adolescente apreendem podem funcionar também como contra exemplo em suas vidas.

Fonte: http://blogdaroselysayao.blog.uol.com.br/arch2008-12-16_2008-12-31.html

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